Parati Quadrada 🟦 como é ter uma?

Nunca tive um Volkswagen refrigerado a água antes. Vamos começar assim. Logo pra mim era uma grande novidade, mesmo já tendo conhecimento sobre outros carros de outras marcas com esse tipo de sistema. Mas não tem aquele barulho do Boxer refrigerado a ar, não tem motor, nem tração, traseira.

Minha ideia de Volks quadrado começava e terminava no Gol BX, a primeira das primeiras versões do carro que realmente substituiu o Fusca no Brasil. Assim eu teria um Fusca (o maior dos ícones), uma Brasília (primeira que tentou tomar o lugar dele) e o que realmente conseguiu. E também porque eles ficariam bem perto em termos de idade. Seriam todos entre final e início da década de 80, uma vez que os primeiros Golzinhos saíram em 1980. Nosso Fusca é 78 e a Blue 80.

Porém a Parati sempre foi um carro que me chamou a atenção. Primeiro quando era mais novo e via os carros que os jovens da época usavam. Parati de surfista principalmente, que nada mais era que uma Parati normal, com as rodas pintadas de preto e com um rack no teto para as pranchas. Isso era um modelo. Depois quando, lendo a história da Brasília, fiquei sabendo que o Piancastelli (projetista responsável pela Brasília) também participou do projeto do “Gol Wagon”. Em termos de desenho ambas tem várias semelhanças.

Semelhanças que ficam em alguns detalhes no desenho da traseira, laterais, e até de acabamento que a Volks, provavelmente pra poupar dinheiro, trazia de outros carros. As luzes da placa traseira por exemplo são as mesmas da Kombi. A clássica maçaneta de abertura interna da porta também, manivela dos vidros. Kombi, Fusca, Brasília, Gol, entre outros… todos usando as mesmas peças e a Parati também. Por um lado é bom porque não é difícil de achar, e até deveria criar uma sensação de se sentir “em casa”, continuidade. Por outro lado dá a impressão de que o carro não era realmente um produto novo e que até houve um aproveitamento de peças.

Porém o principal, pra quem como eu estava acostumado com os motores aircooled, é a dinâmica do carro. A “pilotagem”. Se comporta como algo mais moderno, tendo tudo aquilo que um antigo tem, sendo realmente mecânico. Ao contrário de um carro moderno que você não acelera, não freia e muitas vezes não debreia (aperta o pedal da embreagem).

Quando você acelera não é um computador que está lendo o que você está fazendo examinando um parâmetro e fazendo contas. É um cabo. Se você acelera, o carro acelera. Se você freia, não é um computador que vai medir a força que foi colocada no pedal, pra saber se vai precisar intervir pra não travar o freio. Não é!!! Se você conseguir frear o carro já é uma conquista, se ele travar tá de boas. E a embreagem não é hidráulica para que você não faça tanta força. Negativo.

Não tenho nada contra as tecnologias, acho elas ótimas, uso todas elas, mas é divertido andar em um antigo por esses pontos acima. Além da nostalgia é claro. Olhar para o carro e pensar que em tal ano as pessoas usavam aquele carro para fazer tal coisa. E que não tinha problema nisso, na verdade aquilo era provavelmente algo muito, mas muito bom, um ótimo produto, evolução em relação aos demais automóveis que naquele momento a Volkswagen oferecia como opção aos seus clientes e até mesmo comparado com outras marcas.

Pensando rapidamente em 83 a Chevrolet tinha a Marajó, a Ford a Belina, e a Fiat a Panorama. Colocando um do lado do outro, acredito que a Parati era a melhor opção.

No meu caso, por seu um carro a álcool, o grande problema inicial era a partida matinal ou primeira partida. Injeta gasolina, dá a partida, liga, não sustenta a lenta, morre e repete o processo umas três ou quatro vezes. Isso foi totalmente resolvido com um carburador Weber remanufaturado feito pelo Kiko, um Mini Progressivo 450. Agora basta injetar um pouco de gasolina, puxar o afogador e uma vez já liga. Porém estou rodando com uma proporção de 1/4 de gasolina no tanque. 75% de etanol e 25% de gasolina. O que torna a proporção ainda menor de gasolina porque a gasolina aditivada tem 25% de etanol. É uma conta louca, mas que funciona bem.

Mas não acaba poraí, depois de ligar ainda tem que esquentar. esperar um cinco minutinhos pra sair. Seria bom fazer isso com qualquer carro, porém no caso do álcool é essencial.

Andando o primeiro ponto que chama atenção é a direção bem leve, trabalhando junto com a suspensão. Os pneus 175 são finos e mesmo com o motor posicionado no eixo dianteiro, o sistema se mostra um avanço grande em relação aos aircooleds. A suspensão dianteira é Independente, tipo Mcpherson, sistema usado amplamente até os dias de hoje, pela simplicidade e eficiência, equipou vários aircooleds pelo mundo, mas aqui no Brasil apenas a Variant 2 teve.

Márcio, nosso mecânico, diz que a Parati é a Variant 3.

Depois o que dá pra notar de muito diferente é o câmbio, como ele é junto ao motor, os engates são bem curtos e precisos, no nosso caso é um câmbio de 5 marchas, onde as 3 primeiras são mais curtas que a 4ª e 5ª e bem mais curtas que o que encontramos em qualquer escalonamento de marchas dos irmãos Fusca/Kombi/Brasília. Originalmente a Parati 83 vinha com câmbio de 4 marchas e haviam dois tipos, curto e longo.

O motor é bem potente comparado aos 1600 aircooled e os 81 cavalos sobram para os 900kg, segundo o manual da Volkswagen. Para efeito de comparação o Fusca 1600 tinha algo em torno de 60 cavalos e 790kg. O motor não era novidade nenhuma, o Passat já usava esse pré AP, chamado MD 270. A novidade estava neste motor equipando a linha de entrada de carros da Volks.

Esse primeiro ano de Parati quadrada foi muito bom. Embora o carro tenha ficado um bom tempo parado, sem andar. Gostei bastante dela e me balança um pouco pensar em trocar por um Gol BX, que é o sonho desde o início, da nossa escadinha evolutiva, mas isso fica pra outra postagem.

Obrigado por ter lido.

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